Crônica: Meus novos amigos - Por Eliana Jacob Almeida

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Crônica: Meus novos amigos - Por Eliana Jacob Almeida

Li há pouco tempo uma reflexão – não me lembro de quem – em torno da palavra “crise”. Apresentava, em linhas gerais, a seguinte tese: se, quando passamos por uma crise financeira, adotamos uma postura de disciplina e começamos a economizar; quando passamos por uma crise gástrica, resolvemos fazer uma dieta; quando enfrentamos uma crise no casamento, paramos para nos avaliar; quando nos encontramos mergulhados numa crise existencial, procuramos ajuda psicológica, espiritual e adotamos hábitos mais saudáveis, isso significa que “crise” é algo altamente positivo para o ser humano.
Há algum tempo, depois de enfrentar alguns desencontros e, estando  já na meia-idade, encontrei-me numa espécie de “estado de sítio” emocional e, como Dante Alighieri, na Divina comédia, pude constatar: “No meio do caminho de nossa vida / encontrei-me em uma selva escura,/ pois a via certa estava perdida.”
Na busca de solução, atirei para muitos lados e acabei acertando em alvos que têm me norteado o caminho. Fiz dois novos amigos que, juntos, conseguiram reacender a chama que existe dentro de mim.
Eles são  daquelas pessoas que definem o clima de qualquer ambiente, sua presença muda qualquer paisagem. Onde quer que estejam, a atenção deles é disputada, porque são pessoas que vieram ao mundo para fazer diferença. Dão sua contribuição moral, seu exemplo e se especializaram em ensinar gente a ser gente.
Um deles tem um abraço que alcança a alma e nos faz sentir completamente amparados. O outro é carrancudo, sério, tem uma agenda cheia, mil compromissos, mas encontra tempo para ir contar histórias para crianças de favela e  ir à feira aos domingos. Caminha 40 quilômetros por semana e  ainda sonha em  alfabetizar adultos. O primeiro, um dia desses, me disse que gostaria de morar no mato, adora dançar forró e sonha pegar uma moto e sair pelo mundo.
Eles me encantam porque, para a OMS, eles seriam considerados idosos, mas o perfil deles desmente esse rótulo. Ambos têm uma juventude intelectual impressionante, uma rotina atarefada, realizam trabalhos voluntários e têm, ambos, o que define um jovem em qualquer idade: sonhos.
É triste constatar que se os tivesse encontrado antes, certamente seguindo seus passos, eu seria um ser humano melhor. Como Beatriz ajuda Dante atravessar o inferno, a se purificar no purgatório e, finalmente, o conduz ao paraíso,  meus novos amigos me ajudam a enfrentar meus momentos de crise, despertam o que há de melhor em mim e me aproximam mais de Deus.
Segundo Jung, um dos criadores da psicanálise, “na noite escura da maturidade, tudo parece carecer de sentido, antigas questões existenciais ressurgem e nos atingem como raios.” Mas se nessa fase formos capazes de olhar a nossa volta e perceber os presentes que a vida nos traz – como os amigos que encontrei –  talvez consigamos transformar essa “noite escura” num ponto alto de nossa existência.