Essa história do Dentista que virou Paisagista, que virou Arquiteto?

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Essa história do Dentista que virou Paisagista, que virou Arquiteto?

Eu acho que nasci paisagista, porque a minha grande paixão são as plantas, a natureza. Tudo que você faz para o bem volta para você e a natureza dá esse retorno. Semanas atrás no meu sítio onde cultivo muita coisa, é uma vida inteira plantando, tenho lá uma coleção de plantas imensa, então, na paineira tinha 35 araras no meio do meu jardim. Ficamos sentados embaixo e aquele monte de araras fazendo a algazarra. Isso é o retorno. Eu nasci prá isso, para ser paisagista, para trabalhar com natureza. Fui fazer Odontologia, porque a gente nasce e os pais acham que sabem mais o que a gente quer para o futuro. Formei-me em Odonto em 1996. Lá atrás, nem se falava em paisagismo. Arquitetura era uma coisa legal, mas os que pais achavam é que os filhos seriam alguma coisa na Medicina ou Odontologia. Então fui direcionado para essa profissão. Fiz Odonto em Volta Redonda no Rio de Janeiro e adorei. Foram anos maravilhosos. Fiz amizades que até hoje cultivo. Lembro que durante o período que fazia faculdade, toda vez que voltava do Rio trazia o carro lotado de plantas que ia plantando no sítio. Todo mundo sabia dessa minha paixão. Quando voltei prá cá continuei com essa história de paisagismo. Uma pessoa foi no meu sítio e falou, João faz um jardim na minha casa. Minha irmã então propôs montar um negócio e em 2000 mil montamos a Florart. Fiquei dois anos com a Florart e o consultório, mas aí comecei a não ser muito leal com meus pacientes. Chegava a desmarcar paciente para fazer projeto de paisagismo. Estava de branco e ia pra obra, voltava com a barra suja de terra. Alguma coisa não estava dando certo. Em Odonto, me especializei em Endodontia. Aí decidi parar com a Odontologia e fiquei só com o paisagismo. Há seis anos, por influência da minha sobrinha Aline, que é arquiteta, fui fazer Arquitetura. Formei-me no ano passado e na sequência comecei a fazer Design de Interior.

Odontologia é página virada?

Página virada. Eu continuo sendo dentista, eu não estou dentista. Espero que não precise voltar para consultório, que a Arquitetura e Paisagismo me mantenham pelo resto da minha vida.

Arquitetura veio completar sua paixão pelo paisagismo?

Completou. O que acontecia antes de ser arquiteto? Eu era um dentista que trabalhava com paisagismo. Por mais que as pessoas gostassem do meu trabalho, sempre tinha certa restrição, principalmente pelo pessoal da área, por estar fazendo paisagismo e ser dentista. Foi quando decidi fazer Arquitetura e posso dizer, enriqueceu demais o meu repertório até para lidar com meu cliente. E o paisagismo é uma das abas da arquitetura. Hoje, por exemplo, eu consigo ler com mais facilidade o estilo arquitetônico da casa favorecendo no projeto de paisagismo.

Nessa guinada quem mais te apoiou?

Eu sempre tive muito apoio na minha vida. Em tudo. Quando a gente faz as coisas muito claras, quando assume uma postura na vida e acredita naquilo que faz, então acabamos tendo mais apoio e mais gente te valoriza do que o contrário. Acho que não podemos ficar na dúvida. Quando decido uma coisa eu vou. E quando agimos dessa forma, as pessoas admiram isso. O tempo mostra para quem é contra e pra quem não apoia que as coisas vão dando certo. E Graças a Deus está dando certo. A minha família, meus amigos, sempre estiveram do meu lado.

Como é a sua relação com o cliente. Você é daquele profissional que impõe o projeto ou vai moldando ao desejo do cliente?

Acho que precisam as duas coisas. Você é o cliente e vem com uma ideia na sua cabeça. Muitas vezes essa ideia é legal, tem um por que. Mas, muitas vezes não tá legal. Então o meu trabalho é mostrar para o cliente uma linha de pensamento que case uma coisa com a outra, desde arquitetura até o jardim. Eu te dou respaldo naquilo que acredito e que sei que vai dar certo.

Você já rejeitou um trabalho onde o cliente interferiu demais...

Eu tenho uma sorte muito grande. Clientes já saíram da minha vida antes que isso acontecesse. E depois vim saber que eram clientes que deram muito problema para outras pessoas. Não sei se é feeling, mas quando a gente conversa com a pessoa, eu falo demais, então na primeira reunião fica muito claro quem eu sou e já consigo abstrair do cliente quem ele é. Cada cliente você tem que tratar de uma forma. Tem cliente que no primeiro encontro fica amigo. Tem cliente que você diz esse eu nunca vou ser amigo dele e no décimo encontro está tomando cerveja.

Você está inserindo vídeos com dicas na internet. Como está a repercussão?

Isso é outra história. Eu sou meio exibido. Não sei se é um lado carente meu, que gosta de receber elogios. Eu gosto de fazer essas coisas. Comecei a fazer os vídeos e a postar. Eu entendo  que nem tudo que é bonito precisa ser caro. Acho que falta flor na vida das pessoas. Você tomar um café da manhã ou almoçar, jantar, com um vaso de flor à mesa é muito mais prazeroso. E às vezes você pode cortar uma flor na rua colocar numa garrafinha de refrigerante vazia e vira um vaso. Pensando nisso comecei a fazer os vídeos dando essas opções, de coisa onde você tiver pode estar criando aquilo, enfeitando e trazendo mais alegria para sua vida. O pessoal tem adorado, tem pedido. Tem pessoas que nem conheço e elogiam.

Aonde você quer chegar?

Eu acho que já cheguei. Se a minha vida for assim até o final, com os percalços e dificuldades que ainda existem, mas onde a felicidade é muito maior que a tristeza, já tá bom. Se Deus direcionar, como está direcionando, eu já estou feliz. Quero ver minha filha (Lorena) crescer, ser feliz, o maior desejo da minha é isso, ver a minha filha feliz como eu sou. Acho que ela está seguindo esse caminho. Apesar de toda dificuldade que todo mundo tá passando, o Brasil está com problemas, só que não posso dizer que tenho mais problemas que alegrias na minha vida. Do jeito que tá, tá muito bom.

Quando você anda por Fernandópolis, o que está faltando?

Eu acho que pouquíssimos lugares no Brasil, não é só um problema de Fernandópolis, a parte de paisagismo no urbanismo é muito precária. Eu faço um levantamento, um trabalho meu, particular, por exemplo, tem calçadas em Fernandópolis que você não passa porque a raiz da árvore arrebentou, a planta usada não é ideal, tem espinho, ou é imensa, a pessoa não passa. Então falta esse urbanismo na cidade. É diferente você andar, por exemplo, em Curitiba. É um paisagismo maravilhoso, tem muita sombra. Acho que falta sombra em Fernandópolis. Poderia ser feito um trabalho neste sentido, ter mais vegetação, mas a vegetação certa, não plantar qualquer coisa. É o que falta.

Qual a nota que você daria para a Praça Joaquim Antônio Pereira e Praça da Matriz?

Nota? É difícil. O que eu acho o que acontece na política no Brasil, como um todo, é que as coisas não têm muita continuidade. Entra uma pessoa, planta uma coisa. Entra outra arranca aquilo e planta outra coisa. Você plantou uma árvore hoje ela vai demorar  10 anos para crescer para te dar uma sombra. Não existe um lugar que tem uma história na cidade, como a árvore do JAP que teve que ser cortada por vários motivos, mas era uma árvore que tinha história. Se você parar no centro da cidade não se encontra uma árvore que está ali há 60 anos. A cidade não tem uma história botânica. É fácil cortar. Depois que cortou acabou aquela árvore, outra para chegar ao tamanho dela serão muitos anos. Precisava ser feito um trabalho que ficasse, que não mudasse a cada mandato. Isso não desenvolve nunca. Leva de cinco a seis anos para um jardim ficar maduro. No jardim no meu sítio eu planto há 40 anos. Até hoje tem árvore que eu não vou ver dar fruto, porque demora muito tempo. É preciso que uma coisa tenha começo, meio e fim.

Qual seria o modelo ideal de uma praça?

Não existe modelo ideal de praça. O que precisa ser feito é uma pesquisa do entorno dessa praça, se está num bairro, tem um foco. Se está no centro da cidade, tem ponto de ônibus, ponto de táxi, um fluxo grande de pessoa, tem outro foco. Depende muito de onde está essa praça, ver quem são os usuários.

Tem algum local aqui em Fernandópolis que tem um paisagismo legal?

Acho que de uns tempos prá está se tendo uma preocupação maior com isso. Já se tem um cuidado maior com canteiros das avenidas. Um local que pode vir ser legal e que foi o meu TCC na faculdade é a represa (Augusto Cavalin). Fiz um projeto incrível. Acho que ali daria para se fazer um horto florestal com caminhos, ficaria incrível, mas tem que ter começo, meio e fim. Não adianta plantar hoje e daqui uns anos arrancar-se tudo. Tem que ser uma coisa feita e tombada, para permitir que a cidade tenha uma história botânica, para que lá na frente a cidade tenha um local bacana, que seja um pulmão verde.

A Florart está na Expo. Você montou um jardim dentro do pavilhão da Agricultura?

Até queria agradecer o convite do Gutinho Sisto, foi uma oportunidade muito legal. Como foi tudo muito em cima da hora, não ficou do jeito que queria, mas estou impressionado com a resposta do público. As pessoas estão amando. É engraçado, que estava com uma pessoa, passou um casal, um senhor e uma senhora, que era estilo de gente que deve morar em fazenda, aí o senhor passou por mim e falou ‘nossa ficou bão dimais’. Até me perguntaram se o pessoal da área rural não ia sentir falta dos produtos  da região, mas eu percebi nesse ‘ficou bão dimais’ que ele  não estava sentindo falta do produto que ele via antes, ele estava extasiado com o que estava vendo e que é uma novidade. Acho que tem espaço para tudo na Expo. Tá sendo muito legal. Minha vontade é fazer no ano que vem uma coisa mais legal ainda.

Você é meio garimpeiro na cidade?

Eu adoro Ferro Velho, pra mim é um parque de diversão. Eu vou lá, fico andando e acho coisas incríveis. Quebra Galho é outra coisa que visito muito. Quer ver uma coisa deliciosa é o programa Cidade Limpa. Nossa tem um monte de coisa que as pessoas jogam fora e que são incríveis. Tem umas cadeirinhas que coloquei na parede lá na Expo com samambaias que achei na rua. Vou garimpando. É uma coisa barata e que fica super legal.