Santa Casa em novas e boas mãos

20 de Agosto de 2025

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Santa Casa em novas e boas mãos

A má notícia de que o respeitado e admirado Geraldo Silva de Carvalho estava renunciando ao seu posto como provedor da Irmandade Santa Casa de Fernandópolis, causou preocupação em relação aos rumos de uma das mais importantes entidades fernandopolenses. No entanto, algumas horas depois do anúncio oficial, a preocupação deu lugar à bonança já que para ocupar o lugar de Carvalho surgiu um nome de tanto respeito quanto: Sandra Regina de Godoy. Isso só foi possível graças a uma remodelação no estatuto social da entidade que criou o cargo de vice-provedor e logo na primeira eleição, Sandra se colocou à disposição e foi eleita. Agora os rumos da OSS – Organização Social de Saúde – que além da Santa Casa, gerência o AME – Ambulatório Médico de Especialidade – e o Centro de Reabilitação Lucy Montoro, está nas mãos da Dra. Regina, a 1ª mulher a comandar a entidade desde a sua fundação. Currículo e experiência não lhe falta para tal, ela é graduada em enfermagem e obstetrícia pela Fundação Educacional de Fernandópolis, cursou mestrado em enfermagem obstétrica e neonatal e doutorado em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP, possui especialização em saúde pública pelo CEDAS, em gerenciamento em enfermagem pela FAMERP e está cursando gestão em saúde na UNIFESP. Atua como docente do curso de Enfermagem da Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) desde 1990 e do curso de Medicina da Unicastelo desde 2011. Confira o que ela fala sobre este desafio:

 

A senhora é a primeira mulher a assumir a provedoria da Santa Casa de Fernandópolis. Como encara essa responsabilidade?

Realmente é uma grande responsabilidade e um grande desafio estar à frente de uma das principais e mais antigas instituições de nossa cidade, que já tem mais de 67 anos de fundação e 59 de atividade. Ser a primeira mulher tem um grande significado, demonstrando a atenção que a mulher está conquistando na gestão das instituições, de maneira geral.

A vice provedoria foi criada recentemente. Quem assumiria a função caso o cargo não tivesse sido criado?

Toda a mesa diretora da Irmandade foi remodelada com a última alteração feita em nosso estatuto social. Antigamente a diretoria era bem compacta: o provedor, por exemplo, não tinha um vice ou um adjunto, o que dificultava o andamento administrativo, até nas ausências do provedor. Com essa alteração, os cargos de provedor, secretário e tesoureiro passaram a ter dois substitutos diretos. No caso da vacância do provedor, antigamente o tesoureiro assumiria o cargo temporariamente, até a decisão final pelo Conselho Administrativo.

Quando se colocou à disposição como 1ª vice provedora na chapa de Geraldo de Carvalho, imaginou que chegaria a assumir o seu lugar?

Não. O papel era de apoio e auxílio nas decisões da mesa diretora, necessárias para a administração da Santa Casa, mas não necessariamente que chegasse a assumir a liderança da instituição.

Como é sua relação com Dr. Geraldo? Qual legado ele deixa para Santa Casa?

É uma relação de amizade e eu acredito que posso contar sempre com seu apoio, da mesma forma que sempre ele sempre esteve à disposição como amigo e conselheiro. Muito além das obras ou realizações, o Dr. Geraldo deixou a todos nós uma mensagem de união, de fé, de acreditar que as mudanças acontecem, da paciência que devemos ter, da humanização que pregamos tanto e que está em contínuo avanço em nosso hospital.

E a senhora, qual legado pretende deixar como provedora?

Em primeiro momento de manter toda essa forma de trabalho voltada para a humanização, mas aprimorar o trabalho em equipe, pois acredito que a união de várias pessoas, a transformação de um grupo em equipe, pois as decisões tomadas em grupos apresentam uma maior eficiência.

Pretende disputar a reeleição?

No momento é difícil dizer, mas para o futuro não podemos descartar a possibilidade e as necessidades que a Santa Casa possa ter.

Quais os seus planos para a Santa Casa daqui para frente? O que será tratado como prioridade?

Tanto eu, quanto toda a equipe de Irmãos e funcionários que gerem a Santa Casa temos muitos planos. Claro que primeiramente precisamos traçar um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, mas a intenção é transformar a Santa Casa, enquanto Hospital de Ensino, em um centro de excelência, na questão de qualidade da assistência, da pesquisa e que sejamos um hospital de acreditação, que tenhamos selo de qualidade. Já temos alguns projetos prioritários em andamento, como a reforma do Pronto Socorro e a construção da Unidade de Ensino e Pesquisa, que contará com biblioteca, salas de aula e um anfiteatro, além dos avanços no segmento da assistência em si.

Muita coisa mudou com a transformação da Santa Casa em Hospital de Ensino?

Na minha condição, enquanto profissional da área e docente das duas universidades que compõe o Hospital de Ensino, foi notória a transformação e só tem a melhorar. Com esse credenciamento, por exemplo, foram criadas várias rotinas e comissões que auxiliam na gestão e na evolução do nosso trabalho. Temos também a possibilidade de implantar projetos de pesquisa e fomento de áreas como a de ciência e tecnologia, sem contar a melhoria das relações humanas.

O que deve mudar na Santa Casa após a inauguração da UPA, já que há a expectativa que a Unidade desafogue o atendimento no Pronto Socorro?

Estamos esperançosos que, com essa inauguração, nosso Pronto Socorro possa desempenhar melhor o seu papel, que é de atender as pessoas que tem a necessidade de um cuidado mais complexo, em nível de média e alta complexidade médica. Com a UPA em funcionamento a população seria atendida primeiramente pela unidade e caso necessário, então seria encaminhado ao Pronto Socorro, ou quando o SAMU e o Resgate fossem acionados para ocorrências de real urgência e emergência.

Uma das últimas ações de Geraldo de Carvalho como provedor da Santa Casa foi a implantação da Central de Doação. O projeto será mantido? Como ele funciona?

Sim, com certeza. Esse projeto é uma grande necessidade para suprir a lacuna que o governo gradativamente vem deixando de repassar ao hospital. Mais do que nunca, precisamos retomar o trabalho voluntário que foi introduzido no Brasil justamente pelas Santas Casas. As funcionárias da Central de Doações estão ligando de casa em casa pedindo doações para o hospital. Quando uma pessoa aceita colaborar com este trabalho, doando a quantia que pode, fazemos um cadastro dela e então um mensageiro vai até à casa para recolher a doação e entregar um recibo, contendo todas as informações pessoais e valor doado. Inicialmente, o dinheiro que está sendo arrecadado vai para uma conta e será utilizado na renovação do Pronto Socorro.

Como está a saúde financeira do hospital?

Como já é de conhecimento a longa data, as Santas Casas do Brasil estão passando por dificuldades financeiras. Atualmente nossa situação não é extremamente ruim, mas também não é extremamente boa, já que além da defasagem do valor que o SUS paga para os procedimentos que realizamos, o que corresponde apenas a 60% do custo real, ainda está havendo corte de incentivos por parte do governo estadual. Mesmo com o financiamento feito no ano passado, atualmente já temos uma dívida à curto prazo avaliada em R$ 2 milhões. Por isso que precisamos tanto do apoio da população e de nossos voluntários, para continuarmos de portas abertas, cuidado da saúde de todos nós.

Como foi sua receptividade pelos colaboradores da entidade?

Foi muito boa. Recebi o apoio de grande parte dos colaboradores, do corpo clínico, dos próprios membros da Irmandade, das comissões que temos no hospital e também da Associação dos Voluntários, a Volfer, e conto com o apoio de todos, lutando lado a lado, pelo futuro de nossa Santa Casa.

Quando começou sua trajetória no hospital? O que mais lhe marcou nesse período?

Meu primeiro contato foi em 1984, quando fui admitida como atendente de enfermagem no Centro Cirúrgico. Em 1989 saí do hospital para trabalhar na saúde coletiva do município. Desde então, acompanho o hospital como docente e supervisora de estágios. No ano passado passei a fazer parte da Irmandade e também fui eleita para compor a diretoria do biênio 2014/2016. Nesse período todo, tenho muitas lembranças agradáveis, principalmente ligadas às mulheres que tiveram seus bebês e aos alunos, que compreenderam a importância do parto, do respeito, da humanização.

Recebeu o apoio da família para assumir mais essa função, já que além de provedora é empresária e professora?

Sim. Eu sei que são posições importantes, que precisam de grande dedicação, mas que com o apoio da família se tornam suportáveis e os agradeço muito por isso, tanto à família e aos amigos e à todos que de alguma forma tem manifestado seu apoio e a sua dedicação para a nossa Santa Casa. Recebi essa responsabilidade e sinto que unidos, todos nós poderemos fazer um bom trabalho, portanto só tenho a agradecer, pois muito já foi feito, mas ainda há muito o que se fazer.