Recentemente a edição n° 5 da Revista C-Comunic (produto do Jornal CIDADÃO) trouxe em suas páginas a iniciativa do secretário municipal de Meio Ambiente Angelo Veiga, que transformou um terreno abandonado e tomado por lixo e entulho numa área de transbordo, onde praticamente tudo que ali fosse depositado era reaproveitado.
A iniciativa louvável daria fim a um problema que incomoda Fernandópolis há anos, mas na noite de ontem, indivíduos ainda não identificados furtaram as ferramentas utilizadas na área (carriolas, marretas, martelos e enxadas), reviraram tudo o que havia sido separado e atearam fogo num projeto que aos poucos tomava forma. Um desrespeito ao meio ambiente e principalmente às pessoas que acreditaram e trabalharam de baixo de sol forte para alcançar o objetivo proposto.
As chamas destruíram o que havia sido separado durante meses de trabalho e reduziu praticamente tudo a cinzas. A fumaça tóxica tomou conta do céu fernandopolense durante toda a noite de ontem e na manhã de hoje ainda era possível observar pequenos focos do incêndio.
Segundo o secretário de Meio Ambiente, um caminhão-pipa da Prefeitura foi encaminhado pela manhã ao local para controlar as chamas. “Um dos nossos caminhões tentou controlar o fogo. Não quero acusar ninguém, mas isso é um desrespeito com todos que lutaram por esse projeto”, destacou Angelo Veiga.
Em outro ponto, que também está sendo feito o mesmo trabalho, próximo ao CAIC na saída para meridiano, vândalos arrancaram as telas e roubaram os mourões e as lascas de cerca utilizadas para cercar a área.
O PROJETO
O descarte ilegal de lixo e entulho em diversos pontos da cidade parecia ser um problema sem solução. Por diversas vezes, o jornal CIDADÃO mostrou em suas páginas essa mazela e nada se mostrava eficaz no combate a tal crime ambiental que maculava o município.
A ação é um descumprimento às normas ambientais e contribui para a degradação do meio ambiente, que já sofre demais com a emissão de gases poluentes e o desmatamento incontrolável. Tal ato é considerado crime pela legislação ambiental e é passível de pena de detenção ou multa - ou ambas, cumulativamente. Mas se não é permitido jogar lixo em qualquer lugar, então onde descartá-lo?
Na busca da solução desse imbróglio, Fernandópolis se transformou em pioneira num projeto ousado que promete pôr fim a esse problema que assombra não somente a cidade, mas todo o mundo.
Tal projeto foi formulado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mais especificamente pelo secretário de Meio Ambiente e coordenador do curso de engenharia ambiental no município, Angelo Veiga, que em busca de uma solução para esse problema, desenvolveu e começou a pôr em prática esse projeto com características jamais vistas antes, mas que podem acabar com esse mal.
“Posso pecar por alguma coisa que fiz e que venha a não dar certo, mas não vou errar por ficar de braços cruzados vendo a destruição de nossa cidade”, disse Veiga.
Para dar início aos trabalhos, Angelo reservou um terreno que já era usado como depósito irregular de lixo, para transformá-lo em uma área de transbordo. Para tal finalidade, o terreno foi limpo e dividido em setores. Cada setor está destinado a receber determinado material.
Mas, não adiantava existir um terreno todo dividido, se no final das contas, o lixo continuasse sendo despejado sem nenhuma separação. Pensando nisso, foi organizada uma reunião com os donos de empresas de caçambas, impondo-se a eles a responsabilidade de colocar um funcionário de cada empresa para fazer a separação dos materiais.
“Não adianta as pessoas pagarem para as empresas de caçamba retirar o entulho de sua casa e eles jogarem esse entulho em uma área qualquer. No fim das contas nós estaremos pagando esse serviço duas vezes, porque é com o dinheiro de nossos impostos que a prefeitura limpa essas áreas que eles contaminam e no fim apenas eles estão lucrando com isso”, disse o secretário.
Com essa determinação, as empresas que colocarem um funcionário no local poderão descarregar a carga de entulho na área de transbordo gratuitamente, já as empresas que não disponibilizarem o funcionário serão impedidas de descarregar no local e poderão ser multados e até perderem os caminhões caso sejam pegos fazendo o descarte fora da área. A fiscalização ficará por conta da Polícia Ambiental e de fiscais da prefeitura.
Os pequenos transportadores (carroceiros e tratoristas), também participaram de uma reunião e foram informados que eles mesmos terão de fazer a separação do material que levarem para a área. Caso contrário, serão impedidos de fazer o despejo no local e estarão sujeitos à mesma penalidade das grandes empresas.
O material despejado no local será separado em seis esferas: borrachas (pneus, câmaras de ar, etc); entulho; sucata (latas, ferros, etc); madeira; recicláveis (papéis, papelões, etc); e galhos e folhas.
As borrachas e o entulho serão levados para a Ecoservice, onde serão triturados e transformados em matéria prima para construção de estradas. As sucatas e os recicláveis serão doados para a cooperativa de catadores de recicláveis da cidade. Já as madeiras e os galhos serão disponibilizados a uma empresa que está se instalando em Votuporanga. Ela usa esses materiais como matérias primas para a produção de pequenos carvões naturais.
Dessa forma, todos os materiais serão corretamente destinados e reutilizados, o que minimiza o impacto ambiental, restando na área de transbordo apenas terra e resíduos orgânicos.
O projeto ainda vislumbra as necessidades básicas das pessoas que ficarão no local, responsáveis pela separação dos materiais e pelo controle de quem entra e sai da área. Um banheiro está sendo construído no local, só que não se trata de um banheiro comum.
Ele está sendo construído com garrafas pets cheias de areia e afixadas com cimento. Para tal, a Secretaria mobilizou os alunos da escola agrícola que encheram as garrafas - arrecadadas em uma campanha – com areia. Além de retirar centenas de garrafas plásticas do meio ambiente, o material se torna mais barato e ameniza o calor uma vez que as paredes ficam muito mais grosas que as tradicionais feitas com tijolos.
Outro ponto interessante é com relação ao esgoto produzido no local. Ele será tratado ali mesmo em uma mini estação de tratamento de esgoto e os gases produzidos na estação serão utilizados para acender uma lâmpada no local durante a noite.
“Felizmente, a questão ambiental tem recebido a cada dia mais atenção da administração”, diz Veiga. “Só assim poderei, através da minha secretaria, dar ao meio ambiente a atenção que ele merece”.
Segundo Veiga, apesar do vandalismo o projeto não será paralisado.