O dia em que o palmeirense caiu na isca

20 de Agosto de 2025

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O dia em que o palmeirense caiu na isca
 
Tenho uns amigos no interior do Rio de Janeiro que na década de 70 costumavam pescar no Rio Macaé.  Esse rio não tem mais do que 40 metros de largura. Um belo dia, depois de receber a informação de que estava havendo muita ação dos peixes, a turma se organizou para pescar no final de semana seguinte.
 Tralhas organizadas, lá se foram eles - João, Paulinho e Fábio. João resolveu comprar equipamentos para pesca pesada. Ele estava entusiasmado, pensando que finalmente teria a oportunidade de fisgar um belo pintado ou jaú com mais de 60 kg, peixes que sempre habitaram seu imaginário.
 Chegou a sexta-feira e eles colocaram a tralha numa Variant 71 e foram para o Macaé. Chegaram ao local por volta das 23hs. Enquanto tirava as coisas do carro, o João arrumou seu equipamento e foi direto para a beira do rio, com uma lanterninha que não iluminava nem um palmo adiante do seu nariz. Mesmo assim, ele conseguiu iscar o anzol com um minhocuçu, e soltou o braço, fazendo um belo arremesso.
 O problema é que os peixes estavam dormindo. O João decidiu colocar o caniço no apoio, fincou-o no barranco, regulou a fricção e foi ajudar o pessoal a fazer a bóia. A noite estava muito escura e o lampião mal iluminava a cozinha. Estavam iniciando o jantar quando ouviram a fricção do molinete cantar. João saiu em disparada, pegou o molinete e deu uma boa fisgada.
 Fábio pegou sua filmadora e começou a registrar toda a cena. A força do peixe era terrível. Parecia que o João tinha ferrado uma baleia.
 Do molinete saia até chispa de fogo, mas ele estava firme na luta. A presa era realmente uma ótima adversária. Foi nesse momento que se viu o que João tinha pescado: um porco enorme.
 Risadas gerais, Paulinho e Fábio gozaram o cara a noite toda. Retiraram o porco da água, o amarraram pelos pés em uma árvore e foram dormir. No outro dia, ao amanhecer, três policiais lhes deram voz de prisão. A queixa era o roubo de um porco. Pior é que a res furtiva estava ali, deitada debaixo da árvore.
 Tentaram explicar que o animal tinha sido fisgado pelo colega João e que queriam devolvê-lo ao seu dono. Em seguida, chegou o proprietário do porco. Explicaram toda a cena e afirmaram que, para provar o que estavam dizendo, poderiam mostrar a fita gravada.
 No final, entraram num acordo: os pescadores pagariam pelo animal e ficariam com o porco. O homem retirou a queixa e ainda lhes ofereceu um bom café da manhã. O duro foi retornar para casa na velha Variant com três pessoas a bordo, mais a tralha e um porcão de 80kg – afinal batizado de Valfrido, em homenagem a um antigo atacante do Vasco, time do coração do pescador. Valfrido foi criado no quintal de João, que não teve coragem de sacrificar o animal...
Foto: porção (meus documentos)
Legenda: Essa história aconteceu há quase 40 anos. Valfrido, o porco, foi o personagem central