O presidente da Fundação Educacional de Fernandópolis, Paulo Sérgio do Nascimento, está na luta pela recuperação da saúde financeira da instituição, que nesta década viu crescer o número de alunos e também os encargos sociais, tributários, trabalhistas e financeiros. Sem medo de pôr o dedo na ferida, Nascimento aponta as causas que levaram a essa situação e alinha os planos de reconstrução, nesta entrevista exclusiva a CIDADÃO. Além disso, se a dívida assusta, por outro lado há números que trazem boas perspectivas: entre as mais de duas mil instituições universitárias do país, a FEF ocupa um honroso 203º lugar no ranking, além de ser destaque regional. Seus cursos continuam gozando de prestígio e Nascimento garante: “a qualidade do ensino não caiu”.
Concretamente, qual é a situação financeira da FEF?
Hoje, a FEF tem um débito em torno de R$ 40 milhões. Esse débito se refere a tributos que já estão parcelados (já foi feito o REFIS); a questões trabalhistas, nas quais já houve acordo também; bancos e fornecedores.
Qual foi a razão principal desse endividamento?
A FEF, em torno de 2004, passou por um boom no mercado. Trouxemos alunos de toda a região e mesmo de regiões distantes. A instituição passou de 1800 alunos para 6 mil, 6,5 mil. Por conta desse crescimento, a FEF teve que buscar recursos em bancos para poder aumentar seu espaço físico – salas de aula, etc. Aí, entrou naquela ciranda financeira.
Havia um projeto de construir uma “filial” em Rondonópolis. Essas obras estão paralisadas. Por quê?
O caso de Rondonópolis é o seguinte: saiu um projeto por aqui de se construir uma instituição de ensino naquela cidade de Mato Grosso, porque o mercado era muito promissor. Procuraram o FCO (NR: Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) e fizeram o financiamento. A partir do momento em que assumi, já estava terminada a primeira etapa. Só que para continuar, a Fundação teria que fazer a contrapartida. Procurei o Ministério Público e recebi a seguinte orientação: “Para, porque a Fundação é de Fernandópolis, não pode investir em outro lugar”. Isso é estatutário, a Fundação se destina a Fernandópolis. Então, amparado nessa determinação do MP, encerrei qualquer atividade em Rondonópolis – não só lá, mas também em outros pólos onde a FEF tinha atividades de pós-graduação.
Nesse período, houve queda da demanda de alunos?
Sim. Tivemos uma diminuição de 10 a 15% no número de alunos. Antes, quando se visitava as cidades da região para fazer captação de alunos, tinha cidade com, por exemplo, 400 alunos terminando o colegial. Hoje, tem 200. Diminui gradativamente esse número. E isso afeta não apenas a FEF, mas todas as instituições no Brasil. Houve também o aumento de faculdades: hoje, a cada 30 km, há uma faculdade disputando o mercado. Há quatro ou cinco anos, não era assim. Mesmo assim, temos um bom número de alunos e muita procura. Nos 40 ou 50 municípios dos quais temos alunos, a Fundação é muito bem vista.
Como está hoje o relacionamento com o representante do Ministério Público que é curador da Fundação?
Nosso relacionamento com o MP é muito bom, inclusive o Dr. Dênis está nos ajudando, juntamente com o Sinpro, a reverter essa situação. Temos muito apoio do MP. Nós prestamos contas ao Ministério Público anualmente. Enviamos o balanço todo começo de ano.
O senhor fez contatos com as lideranças da cidade para discutir a situação da FEF? Como elas reagiram?
Sim, fiz contatos com a Câmara Municipal e a Associação de Amigos. Eles se sensibilizaram e se colocaram à disposição para nos ajudar naquilo que for possível. Passei para eles toda a situação da FEF, não escondi nada.
E o que é preciso fazer para recuperar a saúde financeira da instituição?
O que é preciso fazer já está sendo feito – sem afetar a qualidade do ensino. Tínhamos vários campi, e demos uma concessão de dez anos ao proprietário da lanchonete, que construiu por conta dele. No fim do contrato, o que foi construído passará a pertencer à FEF. Onde estava a lanchonete, construí 18 salas de aulas. Fechei a Unidade do Shopping e a unidade do prédio da antiga Fermasa. Vendemos a FEF-Teen. Agora, estamos negociando com os bancos. O que preciso fazer é alongar o nosso endividamento. Hoje, a Fundação está no azul. Ela é viável! O problema é o que está aí, que temos que acertar: o passivo do passado. Hoje, se a FEF fosse começar do zero, ela já seria viável. Bem, então teremos que negociar com todos os bancos, que é a última etapa desse processo de recuperação.
Qual é a previsão de tempo para essa completa recuperação da FEF?
De cinco a dez anos. É uma coisa que terá que ser feita devagar, com segurança. R$ 40 milhões não é pouco dinheiro. Mas quero deixar claro que isso é totalmente viável. A FEF tem condições de sair desse endividamento. E nesse processo, estamos contando com o apoio importante dos nossos professores e funcionários que estão atuando como parceiros da instituição.
Como vai o trabalho para transformar a FEF num centro universitário?
Hoje, a FEF é 80% de fato um centro universitário, porque temos doutores, mestres, e já está aberto o protocolo, estamos providenciando toda a documentação necessária, e no mais tardar, até dezembro protocolaremos o pedido de transformação.
A FEF tem uma concessão para a instalação de uma emissora FM. Ela vai ser montada ou o custo não compensa?
Temos prazo para a montagem dessa rádio até o final de agosto de 2012. É lógico que não podemos perder essa concessão. Temos o curso de Jornalismo e a rádio será uma ferramenta muito importante para nós. Então, primeiro queremos equacionar essa situação financeira e, a partir de janeiro, começar o trabalho para viabilizar a emissora.
De quem é a FEF?
A FEF não tem dono. A FEF é representada por cada clube de serviços – Maçonaria, Rotary, Lions – a prefeitura, a câmara...cada um tem um representante, além de representante interno. Existe um Conselho Curador, que elege o presidente. O presidente presta contas ao Conselho Curador e ao Ministério Público. Repito: a FEF não tem dono, ela é patrimônio da cidade. Aliás, quero dizer que o Conselho tem sido bastante atuante e tem nos ajudado muito para resolver nossas questões financeiras.