Atingidos pela crise financeira internacional, os catadores de material reciclável de Fernandópolis foram obrigados a dobrar a jornada de trabalho para poder sobreviver. O mesmo fenômeno ocorreu com catadores de outros estados.
No último dia 20, representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), denunciaram que a atividade foi sensivelmente prejudicada pela crise e que, se algo não for feito nos próximos 90 dias, muitos catadores migrarão para outras atividades informais, prejudicando as empresas compradoras desse tipo de material.
Segundo o coordenador nacional do MNCR de São Paulo, Roberto Laureano, a renda caiu vertiginosamente e até as cooperativas estão com dificuldades para pagar o custo operacional, após queda de 25% em suas receitas.
Em Fernandópolis, embora os catadores não estejam ligados a nenhum movimento, também sentem na pele os efeitos da crise e temem não ter como sustentar as próprias famílias.
É o caso do catador Raimundo Virgulino Diniz, 42, que antes da crise conseguia ganhar R$ 900 mensais; agora, Raimundo levanta às 4h para trabalhar e estica a jornada até às 20h para obter um rendimento de apenas R$ 460 por mês.
A cada quinze dias, Diniz vende o material coletado. Com o dinheiro da primeira quinzena ele paga o aluguel da casa que é de R$ 130 e a energia elétrica. Já com o dinheiro dos outros 15 dias trabalhados, faz a compra do mês no supermercado e paga a conta de água.
É o que dá para fazer com o dinheiro. Minha mulher está desempregada há três meses, o que tem dificultado ainda mais a nossa vida. Eu até tentei procurar outro emprego, mas não tenho estudo, então não me querem, lamentou Raimundo.
A mesma dificuldade enfrenta Maria Aparecida Ferreira, 49, que mesmo com vários problemas de saúde sai em dias alternados para coletar materiais recicláveis. No final do mês passado, a catadora foi encontrada pela equipe de reportagens do CIDADÃO, por volta das 22h30, trabalhando em meio à chuva.
Ao ser abordada, Maria Aparecida disse que tinha que trabalhar para sustentar a casa, pois o marido estava acamado e não podia trabalhar. Meu marido caiu, bateu a cabeça em uma pedra e não consegue mais se mexer. Não pode nem pegar um copo com água para beber. Eu também tenho problemas de saúde, mas saio em dias alternados para catar material reciclável, ainda mais agora que o preço caiu, tenho que trabalhar mais. Por mês eu tiro uma base de R$ 40, mais a aposentadoria do meu marido a gente vai se virando, disse Maria.
Também afetados com a crise, os empresários do setor de reciclagem de Fernandópolis reclamam. Quase fechei as portas da minha empresa, pois com essa crise não tem como ter lucro, disse Maurício Venâncio.