O professor fernandopolense João Batista de Domênicis Neto viveu a grande aventura de sua existência ao viajar por Israel e Egito em janeiro passado. Adepto da equação que dita: viagem + informação = cultura, ele se dedicou a compreender em profundidade os fatos, locais e fenômenos sociais que pôde observar durante a excursão. Percorreu a zona de conflito conhecida como Faixa de Gaza, conversou com a população dos locais visitados, anotou e catalogou dados e vivências. Uma inesquecível experiência de vida, que ele divide aqui com os leitores de CIDADÃO.
CIDADÃO: Professor, qual é a sua área de atuação?
JOÃO BATISTA: Sou professor de Geografia e Sociologia. Lecionei em algumas escolas estaduais de Fernandópolis e atualmente ministro aulas no Colégio Adventista de Votuporanga.
CIDADÃO: Qual o motivo que o levou a visitar Israel e Egito?
JOÃO BATISTA: Primeiramente porque sempre tive vontade de conhecer Jerusalém, que considero como berço do monoteísmo cristão. Também pude satisfazer uma curiosidade que sempre tive, a de conhecer o Mar Morto, local onde podemos entrar na água sem precisar nadar, pois ninguém afunda nessas águas devido à sua densidade (oito vezes mais salgada do que o Oceano Atlântico). Eu quis fazer a prova pessoalmente e apesar do frio entrei na água e é realmente assim como me falavam. Esse local é o mais baixo da Terra - chega a atingir cerca de 400 metros abaixo do nível dos oceanos. Além dessa, outras curiosidades me levaram àquela região.
CIDADÃO: Quanto tempo ficou por lá?
JOÃO BATISTA: Fiquei apenas doze dias do mês de janeiro deste ano, conhecendo Israel de norte a sul, além de partes do Egito. Se pudesse, passaria um ano por lá.
CIDADÃO: Quais as coisas que mais lhe chamaram a atenção nessa aventura?
JOÃO BATISTA: Jerusalém é uma cidade maravilhosa. Seus muros são altos e imponentes. É uma cidade dividida entre três religiões monoteístas, Cristãos, Judeus e Muçulmanos. Cada metro quadrado dessa cidade tem milhares de anos de história confirmada pela arqueologia. Apesar de ser um local sagrado para essas religiões, às vezes os conflitos são inevitáveis. Algo que me chamou a atenção foi que por volta do meio-dia, depois de um minuto de silêncio, ouvi de todas as partes de fora da cidade uma espécie de cântico que durou cerca de cinco minutos. São as orações dos muçulmanos, que oram cantando em alto-falantes, é impressionante. Jerusalém hoje tem cerca de 900 mil habitantes, contando com a cidade nova e velha. Outra coisa que eu não sabia é que em Jerusalém existem dois locais onde se acredita que Cristo foi crucificado e dois locais em que se acredita que Cristo foi sepultado. O local que é aceito pelos protestantes é tido como o mais provável pelos guias judeus.
CIDADÃO: Quais são os locais mais sagrados de Jerusalém?
JOÃO BATISTA: Para os judeus ortodoxos é o Muro das Lamentações, local mais próximo do antigo templo judaico. Hoje, nesse local, se encontra uma mesquita muçulmana e é um grande problema para os judeus, pois a mesquita foi construída no local do antigo templo judaico dos tempos de Jesus, mas os judeus (templários) querem reconstruir seu templo novamente nesse mesmo local onde se encontra a mesquita. Aos pés desse muro eles ficam orando. Os judeus vestidos de preto (os ortodoxos) recebem dinheiro do governo e doações voluntárias para orar o dia inteiro. Muitos judeus (os messiânicos) acreditam que Jesus Cristo é o filho de Deus, mas os ortodoxos aguardam até hoje o messias prometido e libertador de Israel, tanto é que não comemoram o Natal e nem estão no ano de 2009 d.C. Visitei também todo o muro por baixo, em corredores escuros e estreitos, onde professores de história dão aulas práticas e se utilizam inclusive de maquetes eletrônicas com controle remoto para ensinar a história da cidade. Outro fato interessante é que se acredita que o local onde hoje se encontra a mesquita muçulmana (no local do antigo templo judaico), foi o cenário em que o patriarca Abraão quase sacrificou seu filho Isaque (Monte Moriá); e que o pó que Deus utilizou para criar o primeiro ser humano (Adão) foi tirado de lá. Também seria ali o local em que Maomé subiu aos céus, além de se acreditar que quando Noé desceu da Arca na Turquia, foi até aquele local para sacrificar ao Senhor pela preservação de sua vida. É realmente um local muito sagrado para essas religiões.
CIDADÃO: E quanto à guerra na Faixa de Gaza entre judeus e palestinos? Ela não afetou a segurança dos turistas?
JOÃO BATISTA: Não. Na verdade, o grupo fundamentalista islâmico Hamás quer que toda a Palestina seja um estado Teocrático, isto é, que o país seja governado pelas leis do Corão, então, Israel como um Estado democrático não aceita isso e o Hamás tem tentado impor o sistema à força. Há oito anos, todos os dias, sem parar, eles mandam um foguete para Israel e agora que Israel quis desbaratar esse grupo terrorista, eles se misturaram com sua própria população civil para que esta lhes servisse de escudo, e muitos civis acabaram morrendo devido aos ataques de Israel. As notícias que geralmente chegam até nós dão conta de que os judeus não têm tido pena dos habitantes de Gaza, mas a história é outra, pois os israelitas já não agüentam mais ser atacados todos os dias, já há oito anos. Pude perceber que a população dos dois lados quer a paz e não a guerra, mas os grupos fundamentalistas não querem, e isso quebra qualquer acordo. Vi muitas manobras de jatos israelenses em Jerusalém, mas isto não afetou em nada nosso passeio. A segurança é total. Para entrarmos em um shopping tivemos que ficar quase sem roupas, todos sem exceção e os check-ins nos aeroportos também são minuciosos em períodos de guerra. Todos os israelitas, mesmo na reserva, são obrigados a servir o exército por 24 dias no ano, homens e mulheres. São bem pagos e as empresas têm de liberá-los. Pegamos um táxi cujo motorista na semana anterior dirigia um tanque na fronteira de Gaza e isso para eles é coisa normal. Apenas por curiosidade, a capital de Israel é Jerusalém e não Tel Aviv como consta nos mapas.
CIDADÃO: E quanto à cultura local?
JOÃO BATISTA: Bem, vamos começar pela comida: é extremamente apimentada e os doces são doces mesmo. Tudo é adoçado com mel de tâmaras. Uma banana custa um dólar, uma simples manteiga de cacau custa seis dólares e uma coca-cola pequena custa três dólares e cinqüenta centavos. Tudo é muito caro. No mercado árabe em Jerusalém você tem que pechinchar muito, pois o preço cai menos que a metade; já no mercado judeu eles dão o preço e se você pechinchar, eles viram as costas, não tem conversa. Israel é um país de primeiro mundo e todo mundo ganha muito bem. Outro fato interessante é que toda a cidade (antiga e nova) é construída com uma pedra de cor característica (meio amarela) e não pode ser construída de outra forma, pois se paga multa, é uma lei municipal. Lá nem se pinta nada de outra cor, no exterior das casas só com aquela pedra de Jerusalém.Visitei alguns kibutz (comunidade agrícola de cunho socialista) onde todos trabalham para todos e são muito prósperos. Muitos brasileiros trabalham nos kibutz. Israel planta no deserto e colhe até uvas pela técnica de gotejamento. Lá não se desperdiça água como no Brasil, pois é artigo raro. Também visitei a maior bolsa de diamantes do mundo, em Tel Aviv. Só Israel lapida diamantes com 46 facetas em todo o mundo, as jóias são exuberantes.
CIDADÃO: Quais foram os outros locais visitados?
JOÃO BATISTA: Fui ao Mar da Galiléia, Megido, montanhas de Sodoma e Gomorra (cheias de sal e enxofre), Monte Sinai (onde Moisés recebeu a Tábua da Lei), Jericó, Nazaré, Massada de Herodes, Deserto de Negev (o segundo mais seco do mundo), além de visitar o Monte das Oliveiras, Getsêmani, etc. Todos os locais mencionados na Bíblia estão realmente lá e com uma precisão geográfica impressionante.
CIDADÃO: Na sua opinião, valeu a pena?
JOÃO BATISTA: Sim, muito. Gostaria que todos pudessem ter a oportunidade de conhecer esses locais, pois eles nos fornecem uma visão de mundo muito mais ampla em todos os sentidos. Se tivesse que voltar, voltaria para lá. Teria muito mais a dizer. Aliás, quero agradecer ao CIDADÃO pela oportunidade de dividir esse conhecimento com meus concidadãos.